Queda do Preço do Leite Comprime Margens no Campo e na Indústria
Preço médio do leite cru no Brasil registra sexta queda consecutiva em setembro, apertando a rentabilidade de produtores e laticínios.

O preço médio do leite cru na “Média Brasil” atingiu R$ 2,4410/litro em setembro, representando uma redução de 4,2% em relação a agosto, segundo levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq/USP, divulgado em 29/10/2025.
Essa é a sexta baixa consecutiva nas cotações pagas ao produtor. Em termos reais, a queda acumulada é de 19% em relação a setembro de 2024, ajustada pelo IPCA. O setor projeta que essa desvalorização deve continuar até o final do ano, em função do mercado doméstico estar amplamente abastecido.
Cadeia produtiva do leite sob ameaça de oferta externa
Fatores da Abundância de Oferta
Aumento da Produção Interna
A produção nacional tem crescido de forma consistente ao longo de 2025. O Índice de Captação de Leite (ICAP-L) subiu 5,8% de agosto para setembro e acumula alta de 12,2% no ano, indicando forte expansão da captação. Essa alta é impulsionada pelos investimentos feitos após margens mais favoráveis em 2024, além da sazonalidade da primavera/verão, que melhora as pastagens.
Reforço das Importações
O volume total disponível no país foi reforçado pelo aumento de 20% nas importações de lácteos em setembro, que somaram 198,1 milhões de litros em equivalente leite. Quase 80% desse volume foi de leite em pó. Apesar da queda de 4,8% nas importações no acumulado de janeiro a setembro frente a 2024, o volume ainda é considerado alto, atingindo 1,65 bilhão de litros equivalentes.
Importação de Leite Inviabiliza Pequenas Propriedades
Queda nas Exportações
As exportações brasileiras de lácteos diminuíram 36,7% no acumulado de janeiro a setembro, somando apenas 52,9 milhões de litros.
Essa abundância de oferta mantém o mercado saturado, já que a produção segue em alta e o consumo não acompanha o mesmo ritmo, resultando em estoques elevados.
Aperto das Margens e Dificuldades
A combinação de custos elevados e baixa rentabilidade pressiona tanto a indústria quanto os produtores.
Indústria
As margens industriais estão comprimidas, especialmente nos segmentos de leite UHT e muçarela. No atacado paulista em setembro, o leite UHT, o queijo muçarela e o leite em pó tiveram desvalorizações de 2,87%, 2,08% e 1,66%, respectivamente, conforme pesquisa do Cepea. A baixa rentabilidade tem levado as indústrias a reduzir os preços pagos aos produtores.
Produtores
Muitos produtores relatam dificuldades para cobrir o Custo Operacional Efetivo (COE). Em setembro, o COE recuou 0,9% na Média Brasil , mas essa redução é pequena diante da queda das cotações, o que resultou no estreitamento da margem dos pecuaristas.
Poder de compra
O poder de compra do produtor também se deteriorou: foram necessários 26,5 litros de leite para adquirir um saco de 60 kg de milho em setembro, uma alta de 5,4% em relação a agosto, devido ao aumento dos preços dos grãos. Embora esse valor esteja um pouco abaixo da média dos últimos 12 meses (27,5 litros), a tendência sinaliza perda de rentabilidade e crescente cautela nos investimentos.
Perspectiva para o Futuro Próximo
O cenário de curto prazo ainda aponta para a continuidade da pressão de baixa nos preços.
- As quedas consecutivas podem provocar uma desaceleração gradual da produção. Contudo, parte desse efeito deve ser compensada pelo aumento sazonal típico da safra das águas, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
- Espera-se que o volume de produção continue crescendo, mas em um ritmo menor do que o habitual, o que sugere um início de ajuste na oferta.
- Esse movimento poderá abrir espaço para uma estabilização dos preços em dezembro.
- Uma recuperação mais consistente das cotações não é esperada no curto prazo, podendo ocorrer apenas a partir do segundo bimestre de 2026, quando a oferta tende a recuar na Região Sul e o mercado pode reencontrar um novo ponto de equilíbrio.
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