A Importância de Combater o Greening
Mais que uma emergência fitossanitária, o greening coloca em risco alguns ativos ambientais do Brasil que são o sequestro de carbono e proteção da biodiversidade decorrentes da citricultura.
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A importância de combater o greening vai além da questão fitossanitária. A citricultura brasileira é um grande ativo (Econômico, Social e Ambiental) do agronegócio, que está sob risco por conta do avanço da doença e outras questões que afetam a produtividade do setor.
Consideremos ainda os impactos sociais e ambientais envolvidos dos pomares à agroindústria. Já que a plantação de citros, além de geradora de empregos, é atividade de impacto ambiental no ciclo de carbono e proteção da biodiversidade.
Importância Econômica da Citricultura
O Brasil ocupa o primeiro lugar no agronegócio da laranja com 15,3 milhões de toneladas produzidas, o que equivale a 32% do total mundial (USDA, 2024). Também somos os maiores exportadores mundiais de suco de laranja com uma receita histórica de US$ 2,5 bilhões de dólares no ciclo 2023/24.
O Brasil é responsável por cerca de 76% de todo o suco de laranja mundial. Os principais destinos do suco de laranja brasileiro são: Europa (53%), Estados Unidos (32%), China (9%), Japão (3%) e outros países (3%), (CitrusBR, 2024).
Porém, a grandeza econômica da citricultura pode estar ameaçada pelo risco climático e avanço de uma praga com potencial de destruir grandes áreas produtivas dos citros no Brasil: o Greening.
O Impacto do Greening
O Greening é uma doença de difícil controle devido à rapidez de disseminação das bactérias pelo psilídeo e ausência de resistência genética nas plantas. A doença, também conhecida como HLB, ataca todos os tipos de citros (laranja, lima, limão etc) e não há cura para as plantas doentes.
A contaminação se dá pela presença da bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus, transmitida por um inseto de coloração branca acinzentada e manchas escuras nas asas, cujo comprimento de apenas 2 a 3 mm não dá a dimensão do estrago que o Diaphorina citri pode trazer, quando se estabelece nos pomares ainda nas épocas de brotação das plantas.
O difícil controle do Greening exige ferramentas como o alerta sanitário da Fundecitrus, para o monitoramento e mapeamento de incidência da doença, eliminação da planta doente e plantio de mudas sadias, além do controle do psilídeo.
Efeitos do Greening na Produção
As plantas doentes podem levar um tempo para manifestar os efeitos nos frutos, mas já podem servir para disseminar a bactéria, o que exige um monitoramento in loco dos pomares. Quanto aos efeitos da doença nos frutos, ficam deformados, pequenos, assimétricos e caem precocemente.
A capilaridade da contaminação das plantas também se reflete no comprometimento da produtividade. O Greening se alastra rapidamente entre as plantas e pode se transportar entre pomares de uma mesma propriedade ou produções vizinhas.
Os impactos da doença na produtividade pode inviabilizar uma lavoura, no caso da queda dos frutos e da pouca qualidade daqueles que sobrevivem. Mas o fato de não ter cura e demandar a substituição das árvores por plantas saudáveis, gera um impacto econômico que pode inviabilizar o setor no médio prazo, alertando para a importância de combater o greening.
Queda de Produtividade na Citricultura
Segundo o relatório “Campo Futuro” do Sistema CNA Senar, com base nos dados da Fundecitrus, a citricultura brasileira enfrentará um cenário desafiador na safra de laranja 2024/25, para quando estima-se uma queda de 24% na produtividade.
Enquanto isso, os preços da laranja sobem devido a fatores climáticos e à alta incidência do Greening no cinturão citrícola. O que afeta a competitividade do agro brasileiro frente ao mercado internacional da commodity, podendo acarretar perda de market share e receita.
Os efeitos da Queda de Produtividade da Citricultura na Economia
Os efeitos mais graves da queda de produtividade da citricultura dizem respeito à viabilidade da atividade econômica do setor no médio e longo prazos. Um aumento de custos repentino para trocar as plantas doentes, por exemplo, pode impactar a competitividade do Brasil no mercado internacional, no qual é dominante.
Além disso, a queda de receita vai impactar o equilíbrio na balança comercial e pode comprometer a grande fatia de mercado que o Brasil possui. Levando seus principais compradores a buscarem novos fornecedores, inviabilizando a recuperação do setor, inclusive para abrir novas praças de produção de laranja como medida mitigadora de riscos.
Os impactos econômicos (e sociais decorrentes) somam-se aos impactos ambientais que a redução da produção citrícola pode trazer. Já que os pomares sequestram carbono e armazenam no solo e na biomassa, com estoques que chegam a 36 milhões de toneladas de carbono no cinturão citrícola (Embrapa, 2024).
Impactos Ambientais da Citricultura
Um estudo da Embrapa Territorial estimou em US$ 7,72 dólares por tonelada o valor do gás carbônico equivalente na citricultura brasileira. A precificação indica o valor a ser recebido pela redução nas emissões dos gases de efeito estufa (GEE) para cobrir os custos econômicos, sociais e ambientais envolvidos.
Ainda segundo a pesquisa, cada hectare de pomar de citros estoca cerca de duas toneladas de carbono por ano, o que dá a medida dos efeitos da redução de áreas citrícolas na descarbonização da economia brasileira, em termos de compensações e potencial de receita adicional das propriedades.
Além do ciclo de carbono, o estudo da Embrapa identificou 314 espécies de animais silvestres no cinturão citrícola brasileiro, com vestígios de 268 aves, 28 mamíferos e 18 anfíbios e répteis. Entre os animais de grande porte flagrados pelos pesquisadores estão a onça-parda, a jaguatirica e o lobo-guará.
Biodiversidade e Produtividade na Citricultura
A produção de laranja no Brasil também desenvolve manejos e técnicas que integram a sustentabilidade ao processo produtivo. Uma das técnicas utilizadas para aumentar a produtividade é o consórcio entre os pomares e a apicultura.
O consórcio entre a citricultura e as abelhas oferece maior produtividade a ambas as atividades. Já que as abelhas têm oferta maior de alimentos em curta distância, enquanto os pomares têm a presença mais ativa dos polinizadores, dando cobertura a uma área maior de flores.
Combate ao Greening com Eficiência e Sustentabilidade
Na busca por uma solução para combater o greening a inovação é imperativa. No entanto, a busca é por uma solução que garanta eficiência com sustentabilidade. Já que a cadeia produtiva precisa manter o ativo de impacto ambiental positivo ao mesmo tempo que garante qualidade e segurança das frutas que chegam ao consumidor.
Um estudo realizado pela Embrapa Meio Ambiente em parceria com a Unicamp, desenvolveu um nanoinseticida a partir do tiametoxam para combater o greening, princípio ativo já utilizado no combate da doença. A molécula inseticida tiametoxam foi encapsulada em estruturas nanométricas (80 mil vezes menor do que a espessura de um fio de cabelo), que promovem a liberação controlada do princípio ativo.
Os nanopesticidas são conhecidos pela elevada eficiência de aplicação e menos efeitos tóxicos ao meio ambiente, o que foi confirmado na pesquisa pelo controle limpo e eficiente do vetor, em comparação às aplicações convencionais do mesmo ingrediente ativo.
Compreensão da Importância de Combater o Greening
A importância de combater o greening não diz respeito apenas à sobrevivência da citricultura como atividade produtiva. Mas evidencia como o setor é fundamental para a sustentabilidade. Seu potencial econômico, social e impacto no meio ambiente exigem planejamento estratégico para proteção da atividade e garantia de longevidade da produção.
Garantindo, assim, sucesso na transição econômica em busca de balanço de carbono favorável, melhoria de qualidade de vida no campo, aumento da renda dos produtores e melhoria na qualidade e segurança dos produtos que chegam aos consumidores.
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