Conforto Térmico do Gado: Estudo Mostra Como a Pelagem Impacta a Produtividade do Rebanho.
O clima não é uma preocupação exclusiva da agricultura. Os animais, assim como as plantas, sofrem com as mudanças climáticas e as pesquisas avançam para garantir a sustentabilidade da pecuária.

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Uma das perguntas mais importantes na pecuária, especialmente em tempos de clima extremo, é: como a pelagem pode interferir na produtividade do gado? A resposta veio em estudo realizado pela Embrapa Pecuária Sudeste e publicado na revista Nature Scientific Reports.
A pesquisa avaliou como as características dos pelos influenciam no conforto térmico dos animais, durante as trocas de calor com o ambiente. Avaliando 40 mil amostras de pelos de 64 touros adultos, entre Canchim e Nelore, ao longo de 12 meses, passando por verão e inverno.
Dessa forma foi possível identificar como cada amostra reage aos estímulos de calor e frio nos ambientes, divididos entre sistemas de sombreamento natural (pasto) e sistemas de sombreamento ILPF (Lavoura-Pecuária-Floresta).
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Impacto da Pelagem no Conforto Térmico do Gado
A estrutura dos pelos, incluindo a densidade por área, define quanto calor passa da pelagem para o ambiente externo, ao mesmo tempo que controla a radiação absorvida pelo animal. Ou seja, em combinação com a pele, os pelos evitam a perda de calor nos dias frios e auxiliam na termorregulação em dias quentes.
“Por isso, temos interesse em estudar a pele e seus anexos e, assim, entender como as raças criadas em regiões tropicais usam essas características morfológicas para se adaptar ao ambiente em que vivem. Em um país tropical, como o Brasil, com elevadas temperaturas, umidade relativa do ar alta em boa parte do ano, e significativa intensidade de radiação solar, os animais são postos à prova constantemente, principalmente quando criados a pasto”. Alexandre Rossetto Garcia, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste.
Aspectos destacados da pelagem na regulação térmica do gado:
- Coloração: quanto mais escura, mais radiação é absorvida e menor a capacidade de dissipar o calor, ao contrário da pelagem branca.
- Densidade: quanto maior a cobertura de pelos, mais protegida a pele.
- Comprimento e espessura dos fios: pelos mais longos podem dificultar a perda de calor, o que é ruim no verão, mas positivo no inverno. Pelos mais grossos oferecem maior proteção à pele, contra a radiação solar direta.
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Principais Características da Pelagem dos Animais do Experimento
Foram acompanhados 32 animais da raça Nelore (Bos Indicus) e 32 touros Canchim (composição: 5/8 Bos taurus × 3/8 Bos indicus), distribuídos igualmente entre dois sistemas de pastejo rotativo intensivo:
- Canchim: pelagem menos densa (menor quantidade de pelos por unidade de área); fios geralmente mais finos (permitem uma adequada troca de calor com o ambiente); cor creme em várias tonalidades até o amarelo claro, que refletem melhor a radiação solar e reduzem a absorção de calor.
- Nelore: pelagem densa (grande número de pelos por unidade de área); fios grossos, que protegem mais contra a radiação direta; coloração que varia do branco ao cinza claro, ajudando a refletir a radiação solar e manter a temperatura corporal; pelo curto, que facilita a dissipação de calor e evita o acúmulo de umidade e sujeira.
Com relação à adaptabilidade, o estudo indica que a boiada Canchim possui alta capacidade de dissipação de calor e pode se adaptar melhor a variações climáticas. Já a boiada Nelore tem pelagem eficiente em proteger contra a radiação solar e manter a temperatura corporal estável em ambientes quentes.
“Entender como os bovinos se adaptaram ao longo do tempo e identificar aqueles que têm características desejáveis e que possam ser transmitidas geneticamente é fundamental para trabalhar critérios de seleção, visando à construção de gerações futuras de animais mais resilientes”. Alexandre Rossetto Garcia, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste.
O Impacto dos Sistemas Produtivos
A pesquisa destacou a performance do gado no Sistema Integrado de Produção Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Onde a temperatura média do ar e a radiação incidente foram menores, especialmente no verão. Momento em que as árvores são cruciais para proporcionar o conforto térmico necessário à manutenção da homeostase dos animais, favorecendo sua produtividade.
A genética e o ambiente são complementares nos sistemas produtivos. Por isso um manejo que crie uma atmosfera de conforto térmico é fundamental. No entanto, uma boa genética combinada a um ambiente favorável inclui a disponibilidade de alimentos que estejam à altura da demanda calórica dos animais.
Estresse Térmico nas Plantas
Neste aspecto, o estresse térmico das plantas pode ser um problema, já que elas também sofrem com temperaturas extremas e regimes de chuva instáveis. O que mostra a gravidade do problema das mudanças climáticas para todo o sistema agropecuário.
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O aspecto sugere a consideração de sistemas produtivos aparelhados com irrigação, de modo que tanto a pastagem quanto a complementação alimentar dos bovinos possa ser suprida, sem surpresas. Garantindo que o investimento em melhoramento genético do rebanho e implementação de ILPF não seja em vão.
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Estudo Indica Direções à Pecuária
Os resultados ajudam a entender a influência da pelagem na resposta das raças aos estímulos ambientais. Ajudando os produtores na definição dos sistemas produtivos mais eficientes, bem como as características desejáveis para o melhoramento genético, buscando adaptabilidade às características da região onde será desenvolvida a atividade pecuária.
Além disso, a pesquisa também demonstra que somente o melhoramento genético, embora seja fundamental para o desenvolvimento de gerações mais resilientes, não traz todas as soluções ao problema da produtividade em ambientes de clima extremo.
É necessário pensar em sistemas que ofereçam aos animais uma situação mais favorável, para que ele possa expressar o melhor de sua genética. De modo que a termorregulação volte a ser um processo natural frente às variações de temperatura, ao contrário de ser uma adaptação que causa sofrimento e angústia aos animais.
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