O Agro Brasileiro Diante das Tarifas Americanas à China: Riscos e Oportunidades.

O tarifaço de Trump à China e a tarifação recíproca dos chineses pode abrir uma nova demanda para produtos agrícolas brasileiros, aumentando nosso faturamento nas exportações sem comprometer o abastecimento nacional.

O Agro Brasileiro Diante das Tarifas Americanas à China. Imagem: Istockphoto.com
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O tarifaço anunciado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, trouxe incertezas a todos os mercados, que levarão um tempo para compreender os efeitos no curto, médio e longo prazos. 

Com o Brasil não foi diferente, já que temos relações comerciais de diversas matizes com os americanos, embora a relação de entrada e saída de produtos seja favorável aos Estados Unidos, superavitários na balança comercial com o Brasil. 

No entanto, a complexidade do comércio global amplia os efeitos das tarifas, independente das alíquotas aplicadas. Pois existe uma troca intensa de commodities e bens de consumo, que pode sofrer com a reciprocidade de tarifas, tornando o produto americano pouco competitivo em alguns mercados. 

O Agro Brasileiro Diante das Tarifas Americanas à China

O agro é um dos setores onde Brasil e Estados Unidos têm intensa relação de troca mas também de competição. Um dos maiores mercados para os produtos agropecuários do Brasil é a China, também importadora de produtos agrícolas americanos e um dos principais alvos das tarifas dos EUA.

Para se ter uma ideia, a China domina 30% da pauta exportadora agropecuária brasileira com:

  • 73% da soja em grão;
  • 51% da carne bovina in natura;
  • 44% da celulose;
  • 18% da carne suína;
  • 33% da pluma de algodão;
  • 13% da carne de frango;
  • 11% do óleo de soja.
  • 9% do açúcar;
  • 6% do milho;

Dados: Cepea-Esalq/USP, 2025. Share (%) do valor de exportação em US$.

Conforme o relatório de Exportações 2024 do Cepea/Esalq USP, a Soja gerou, sozinha, US$ 54 bilhões de dólares, a carne bovina rendeu US$ 13,3 bilhões, carne suína US$ 4,7 bilhões e a carne de frango US$ 3,4 bilhões de dólares, em comércio com o país asiático.

A Produção Agrícola Chinesa e sua Demanda Interna

Quando falamos de commodities como: carne suína e pluma de algodão, ou derivados como o óleo de soja, a China é o maior produtor mundial e, ainda assim, mantém a importação desses e outros produtos, para os quais ela figura entre os 10 maiores do mundo.

Produção Chinesa das Principais Commodities Importadas do Brasil em 2024:
  • Soja: 20,65 milhões de toneladas;
  • Carne bovina: 7,8 milhões de toneladas;
  • Carne suína: 56,75 milhões de toneladas;
  • Algodão: 31,75 milhões de fardos 480lb;
  • Milho: 294,92 milhões de toneladas;
  • Carne de frango: 15 milhões de toneladas;
  • Açúcar: 11 milhões de toneladas;
  • Óleo de soja: 19,95 milhões de toneladas;

Dados: USDA, 2025.

No comparativo entre 2015 e 2024, as produções chinesas que mais cresceram em percentual foram:

  • Soja: +66,53% (incremento de 8,25 milhões de toneladas);
  • Algodão: + 48,36% (incremento de 10,35 milhões de fardos de 480lb);
  • Óleo de Soja: + 36,64% (incremento de 5,35 milhões de toneladas).

Dados: USDA, 2025.

Ao longo de uma década a produção de milho foi a que mais cresceu na China, em termos de volume. De 2015 a 2024, o incremento foi de 29,92 milhões de toneladas, que representam um aumento de 11,29%. 

Apesar da produção regional crescente, a China mantém uma forte demanda interna que obriga o país a buscar fornecedores externos, o que torna os chineses grandes importadores de commodities agrícolas. 

Produtos Agropecuários que a China Compra dos Estados Unidos 

Considerando a necessidade chinesa de importar produtos agropecuários, podemos entender como pode ser o impacto do tarifaço de Trump no agronegócio brasileiro, caso a resposta da China inclua a taxação das commodities americanas do setor. 

As exportações dos EUA para a China representam 14% do total da pauta exportadora agropecuária americana, totalizando US$ 24,65 bilhões de dólares. Entre os principais produtos estão:

  • Soja em grão: US$ 10,84 bilhões (27,37 milhões de toneladas);
  • Carne bovina: US$ 1,58 bilhões (195 mil toneladas);
  • Algodão: US$ 1,48 bilhões (740 mil fardos de 480lb);
  • Carne suína: US$ 1,11 bilhões (389,72 mil toneladas);
  • Milho: US$ 327,88 milhões (1,47 milhão de toneladas;
  • Açúcar: US$ 20,52 milhões (25 mil toneladas).

Dados: USDA, 2025.

Somente com essas commodities, caso seja interrompido o fluxo de envio dos EUA para a China, o dinheiro que fica sobre a mesa é de US$ 15,54 bilhões de dólares. Valor que representaria um aumento de 9,45% no faturamento das exportações agropecuárias brasileiras, em torno de de US$ 164,4 bilhões de dólares em 2024 (Cepea/Esalq USP, 2025).

Já com relação aos volumes de produtos envolvidos, a soja equivale a 6,4% da produção brasileira, a carne bovina 1,65%, a carne suína 8,6%, o algodão 4,4% e o milho 1,16% da produção brasileira, para citar alguns exemplos. 

Em termos percentuais, o volume de carne suína enviada dos EUA para a China, teriam o maior impacto sobre a produção brasileira, já que não houve crescimento da produção nacional, entre 2023 e 2024. 

Ao contrário da soja, carne bovina, algodão e milho, cujos crescimentos de produção, entre 2023 e 2024, superaram os incrementos necessários para suprir o comércio entre Estados Unidos e China. O que indica a boa capacidade do agro brasileiro de suportar a demanda chinesa.

Riscos e Oportunidades para o Agronegócio do Brasil 

Uma possível interrupção do fluxo de commodities agrícolas entre Estados Unidos e China, por conta da taxação imposta pelos americanos, pode oferecer algumas boas oportunidades de negócio no Brasil, com potencial de incremento de, pelo menos, 9,45% no faturamento das exportações. 

O baixo volume demandado, em relação ao total produzido no Brasil, torna mais simples suprir esse adicional de demanda, ainda que repentino, considerando a nossa capacidade de produzir mais, o que reduz os riscos sobre desebastecimento interno e não afeta o atendimento a outros parceiros.

No entanto, a estrutura logística de armazenamento e transporte pode oferecer alguns riscos, caso haja um aumento de demanda para estruturas que trabalham de forma deficitária, seja em infraestrutura operacional ou financeira. 

Outro ponto que deve ser observado é a modalidade de negociação das safras, caso os produtores tenham empenhado antes da colheita, uma boa parte de sua produção. A expectativa de uma safra recorde pode gerar receio de queda de preços e levar a uma corrida por proteção antecipada de preços. 

Neste caso, o grande risco seria o Brasil deixar de atender parceiros menores, o que seria prejudicial para a imagem do agro brasileiro em termos estratégicos e táticos. Já que a dependência da China é um dos gargalos setoriais, cuja solução é a diversificação de destinos.

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