Safra 2023/24: Tempestade Perfeita Coloca Agro em Alerta
O artigo chama a atenção para a safra 2023/24 e os principais desafios que se apresentaram ao agronegócio brasileiro. Em um período onde um conjunto de variáveis diversas se mostraram preocupantes e que, combinadas, podem inviabilizar a produção agrícola no Brasil.
Agronegócio no Brasil enfrenta sua safra mais desafiadora. Resiliência revela amadurecimento do setor.
Seja em logística e armazenamento, variação de preços internacionais e risco climático (especialmente os efeitos do El Niño), o agro brasileiro enfrentou grandes desafios com queda de produtividade, queda de preços e clima favorável a pragas.
Recuperação Judicial das propriedades
No início de 2024 foi noticiado aumento de 300% nos pedidos de recuperação judicial de propriedades rurais que, entre outros efeitos, permite o refinanciamento de dívidas e auxilia na recuperação de fôlego financeiro das fazendas.
Além do aumento repentino, o fato chamou a atenção pela reação em cadeia que desperta, já que os créditos foram concedidos dentro de um determinado cenário de risco menos desafiador do que o que se apresentou na safra 2023/24.
Desta forma, o financiamento para as safras seguintes pode sofrer um encarecimento pelo aumento do risco, seja por inadimplência ou pela dilação no prazo de pagamento, com a recuperação judicial.
Queda do Valor Bruto de Produção (VBP)
Segundo o comunicado técnico do Sistema CNA Senar, está prevista uma queda do Valor Bruto de Produção (VBP) da Agropecuária, em torno de 5,5%. A queda é mais acentuada na área agrícola (queda de 6,8%), puxada pela queda da Soja, que corresponde a 36% da produção agrícola do Brasil.
O VBP representa o faturamento bruto dentro dos estabelecimentos rurais, considerando as produções agrícolas e pecuárias, com a média de preços recebidos pelos produtores de todo o país. (Extraído do site CNA/Senar)
Variação do VBP das principais culturas:
- Soja: -21,9%
- Milho (Segunda Safra): -16,8%
- Cana-de-açúcar: +1,2%
- Bovinocultura de Corte: -3,5%
- Bovinocultura de Leite: -11,6%
Das principais culturas, a cana-de-açúcar (terceira mais importante) foi a única que teve resultado positivo, impulsionado pela alta acumulada de preços, em torno de 1,8%. Outro aspecto a destacar é a bovinocultura de leite, que enfrentou grande concorrência com produtos importados, principalmente da Argentina e Uruguai.
Riscos de Mercado
As oscilações de preços no mercado internacional são uma ameaça presente. mas a conjuntura da safra 2023/24 tornou-se mais desafiadora. O quadro de quebra na produção com queda de preços coloca os produtores contra a parede. Com o aumento de custos de produção e possíveis aumentos no custo do crédito, alguns fazendeiros podem sair da atividade.
Além disso, a concorrência com produtores agrícolas como Argentina e Uruguai, se deu dentro do território nacional. Com preços mais competitivos, os produtos lácteos desses países encontram mercado no Brasil, que acaba não remunerando o produtor brasileiro para a sustentabilidade da cadeia produtiva do leite, bem como o consumidor não se beneficia de uma redução dos valores nas gôndolas.
Riscos Climáticos
Os efeitos climáticos do El Niño trouxeram seca e chuva em excesso em regiões distintas no Brasil. O que tornou a decisão do que plantar, quando e qual o tamanho da área num jogo de xadrez que colocou à prova a profissionalização do agronegócio brasileiro.
O momento decisivo levou produtores à reflexão sobre incorporarem novas tecnologias à sua gestão. A tomada de decisão de plantio de primeira safra foi um dos grandes desafios da safra, já que a área e o período precisavam viabilizar o desenvolvimento e colheita para plantio da segunda safra.
A segunda safra, por sua vez, com uma janela mais apertada, precisava respeitar o período de vazio sanitário, complicando ainda mais a equação da difícil safra 2023/24. Era preciso escolher entre plantar mais ou menos com vistas a perda de produtividade e qualidade, com custos altos e incertezas de preço.
Risco de Preço
Os preços baixos das principais commodities brasileiras no mercado internacional é outro fator que fez desta safra um desafio imenso. Já que, para equilibrar custos e recebimentos, os produtores precisaram aguardar condições melhores para negociarem seus estoques.
Desafios Estruturais
O que, por si só, lança outras variáveis à já tão complexa equação. Pois depende da capacidade de armazenagem dos produtores, que nem sempre possuem estrutura adequada. Uma linha de crédito foi aberta especialmente para as fazendas incrementarem sua estrutura de armazenagem, o que assegura qualidade aos grãos e melhores condições de negociação.
Por outro lado, quando boa parte espera o melhor momento para negociar o estoque, pode encontrar, no momento da venda, uma estrutura logística sobrecarregada e, portanto, corre o risco do aumento do frete, bem como congestionamentos na região portuária, o que coloca em risco a sanidade do produto.
Desafios ao controle de pragas
Como não fossem suficientes todos os riscos citados, os eventos climáticos ainda apresentam um novo desafio ao agronegócio, que é o controle de pragas. As condições climáticas, às vezes adversas para as plantas, podem favorecer o surgimento de pragas com grande intensidade.
Um dos mais importantes momentos neste contexto, sem dúvida, é o vazio sanitário. Nos entanto, caso haja resistência de pragas, que podem ocorrer de forma epidêmica (dadas as condições climáticas favoráveis), os efeitos podem ser sentidos nas próximas safras.
Um evento dessa gravidade, desafia a capacidade de resiliência do agronegócio com perdas de produtividade em safras seguidas, sem garantias de menores custos, melhores financiamentos e proteção severa contra oscilações negativas de preços (frente aos custos operacionais).
Conjunto de Variáveis na Matriz de Risco
Os fatores climáticos foram preponderantes para o resultado negativo de diversas culturas que compõe o mix de produção agrícola do Brasil. No entanto, os resultados são reflexo de uma enxurrada de variáveis que, combinadas, podem inviabilizar a continuidade das cadeias produtivas.