HomeAgronegócio Bagaço da cana reforça rede elétrica nacional em meses sem chuva

Bagaço da cana reforça rede elétrica nacional em meses sem chuva

Resíduo rural garante luz estável quando reservatórios baixam e sistemas fotovoltaicos param durante o horário noturno.

Imagem: Istockphoto.com

A produção de cana-de-açúcar pode representar um alívio inesperado para os consumidores brasileiros durante os meses de sol forte e escassez hídrica, além de ajudar a desligar usinas termoelétricas a diesel.

O uso do bagaço, subproduto da cana, para gerar eletricidade compensa a queda das hidrelétricas e preenche o vazio deixado pelas placas solares após o crepúsculo, ampliando as matriz geradora de energia.

“Quando as hidrelétricas reduzem a sua geração, as termelétricas a biomassa de cana (bagaço e palha) assumem papel decisivo para garantir a estabilidade do sistema elétrico. É um recurso firme, capaz de oferecer suporte confiável justamente nos períodos mais críticos do ano”.

Vinicius Bufon, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP).

Ar limpo e renovável

Essa energia limpa emite apenas 0,23 kg de CO₂ por cada kWh produzido. Para se ter uma ideia, as usinas a diesel chegam a liberar 1,06 kg na mesma tarefa. Como a planta absorve carbono enquanto cresce, o balanço final desse processo no canavial é praticamente neutro para o planeta.

“Tudo isso lhe dá um papel estratégico para a segurança energética e para a transição rumo a um sistema mais sustentável e equilibrado”.

Vinicius Bufon, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP).

Barreiras no caminho

Mas nem tudo é um mar de rosas para o produtor que quer investir nessa frente. Um estudo internacional liderado pela Embrapa aponta que faltam ferramentas básicas de gestão hídrica no campo.

Sem infraestrutura, o potencial energético da palha e do bagaço acaba ficando à mercê de variações severas do clima. Vale destacar que a capacidade de irrigação das lavouras é subvalorizada, como indica um estudo da Embrapa Cerrados.

“A bioeletricidade da cana tem um papel único porque a sua produção coincide exatamente com o período de estiagem, quando a geração hidrelétrica cai. Mas, para mantermos essa contribuição estável, precisamos enfrentar as fragilidades estruturais e institucionais que ainda limitam o setor”.

Vinicius Bufon, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP).

Os principais obstáculos incluem:

  • Escassez de barragens para guardar água da chuva.
  • Baixo aporte financeiro em sistemas de irrigação.
  • Seguros agrícolas que não cobrem riscos reais de seca.
  • Falta de avisos meteorológicos antecipados.

Parceiro do sistema

A grande cantagem é a sinergia entre as fontes. Enquanto o Centro-Sul sofre com rios baixos no inverno, a colheita da cana está em seu auge. O bagaço entra em cena justamente quando o sistema elétrico mais precisa de firmeza para evitar o desabastecimento em horários de pico ou durante a calada da noite.

“Se conseguirmos fortalecer a resiliência da bioeletricidade, estaremos dando um passo importante para garantir a segurança energética do País e para cumprir os compromissos internacionais de mitigação climática”.

Vinicius Bufon, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP).

Publicado na revista Environmental Advances, o estudo contou com a parceria das universidades de Bonn e das Nações Unidas. O objetivo é consolidar a Agricultura Climaticamente Inteligente no Brasil, que significa produzir mais, com maior resiliência aos eventos extremos e menor impacto ambiental.

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