Produção mundial de algodão supera uso e amplia estoques em 2026
Oferta elevada pressiona preços globais, com China e Brasil liderando colheitas e EUA enfrentando concorrência acirrada.

O mercado do algodão possui relevância estratégica mundial de grande impacto para a indústria têxtil. Entender o balanço entre oferta e demanda é crucial para a gestão de risco na atividade, especialmente no planejamento de longo prazo, focado na continuidade do negócio.
O relatório Cotton and Wool Outlook, divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), serve como uma referência primária para produtores, investidores e a indústria global. Ele oferece uma fotografia detalhada das expectativas do lagodão para 2026, fundamental para nortear decisões estratégicas do setor.
Panorama da Produção
A produção global de algodão na safra 2025/26 está projetada para atingir 119,8 milhões de fardos, um aumento sutil em relação ao ciclo anterior. Essa expansão, ainda que discreta, é impulsionada principalmente pelo aumento da colheita em dois grandes players: China e Brasil.
Em contrapartida, a projeção nos Estados Unidos indica uma produção de 14,3 milhões de fardos, uma redução marginal de 1% comparada ao ano anterior. No entanto, a produtividade média americana demonstrou resiliência, com um rendimento nacional projetado em 929 libras por acre colhido, acima da média dos últimos cinco anos.
Melhores Rendimentos e Menos Área
Apesar da área total colhida nos EUA ter sido estimada em 7,4 milhões de acres, o número de áreas abandonadas foi significativamente menor. A taxa de abandono implícita americana caiu para 21%, comparada aos 30% da safra anterior, especialmente devido a condições mais favoráveis na região Sudoeste.
- A colheita do algodão Upland no Sudoeste projeta um crescimento de 1,1 milhão de fardos, marcando a maior safra da região em quatro anos.
- O Sudoeste viu sua taxa de abandono cair de 50% para 32%, indicando uma recuperação crucial das condições climáticas.
- No Delta, o rendimento projetado atinge um recorde de 1.423 libras por acre, compensando a menor área plantada em uma década.
Consumo e Demanda
O consumo global de algodão pela indústria têxtil, conhecido como uso em fiação (mill use), deve recuar (0,3%), chegando a 118,6 milhões de fardos em 2025/26. Este dado reflete a persistência de incertezas econômicas globais e a competição com o preço favorável de fibras sintéticas.
A China, maior centro de fiação, projeta a maior redução no consumo, com uma queda de 1,3%. Ainda assim, o país asiático manterá sua liderança, respondendo por quase um terço do consumo mundial. Essa dinâmica sugere uma pressão contínua por eficiência na cadeia têxtil.
O contraste ocorre em outros polos de processamento. Vietnã e Paquistão, por exemplo, mostram tendências de aumento de consumo em suas indústrias. O Vietnã projeta alcançar um uso recorde de 8,1 milhões de fardos, sustentando uma demanda crescente por matéria-prima.
Comércio Internacional
O comércio global de algodão deve se expandir em 2025/26, impulsionado pela maior demanda de grandes importadores. Brasil e Estados Unidos seguem como os principais traders, mas a balança mudou significativamente nos últimos anos.
O Brasil projeta ser o maior exportador mundial pelo terceiro ano consecutivo. Sua exportação deve alcançar um recorde de 14,5 milhões de fardos, beneficiando-se da sua colheita histórica. A participação brasileira no comércio global está estimada em cerca de 33%.
Desafios na Competitividade
A participação dos EUA no comércio mundial está prevista para se manter estável em cerca de 28%. Este patamar é inferior à média de 33% registrada entre 2020/21 e 2022/23, um indicativo da crescente concorrência, principalmente com o Brasil.
Do lado das importações, Vietnã e Bangladesh lideram, com o Vietnã projetando um volume recorde de 8,1 milhões de fardos para suprir sua indústria têxtil em crescimento.
Estoques e Preços
O principal fator de cautela para o produtor rural é a alta nos estoques. Os estoques finais globais estão projetados para crescer 2%, atingindo 76,0 milhões de fardos. Isso acontece porque a produção continuará superando o uconsumo, consolidando um cenário de excesso de oferta.
A China mantém sua posição dominante, detendo 46% do estoque global. Nos EUA, o estoque final deve aumentar 12,5%, chegando a 4,5 milhões de fardos. O Brasil também projeta um crescimento de 25% no seu estoque final, em função da safra recorde.
- Com a pressão do aumento dos estoques globais, o preço médio deve cair.
- O índice de preços mundial Cotlook A-Index deve declinar pelo quarto ano consecutivo.
- O preço médio projetado para o produtor americano (Upland) é de 60 centavos por libra, abaixo dos 63 centavos do ciclo anterior.
Perspectivas Futuras
As projeções para 2026 desenham um panorama de desafios e oportunidades. O setor enfrenta o risco de volatilidade de preços, diretamente ligada ao aumento dos estoques e à incerteza econômica global, que reduz a demanda têxtil.
O relatório do USDA indica que a alta produtividade em países como o Brasil e o rendimento elevado em regiões dos EUA é crucial para composição da oferta, mas também para garantir a continuidade de negócios, em possível cenário de preços em queda.
Apesar da competição acirrada, a demanda por algodão de alta qualidade, como o extra-long staple (ELS), permanece relevante. O foco em nichos de mercado e a diferenciação do produto podem ser estratégias para melhorar o rendimento. O clima continua sendo um risco, mas a redução do abandono nos EUA sugere mais resiliência e uma melhora no manejo.
Considerações Finais
A tendência central do relatório é clara: a produção mundial de algodão continua superando a capacidade de processamento da indústria, resultando em um acúmulo de estoques e pressão de baixa sobre os preços.
A menor taxa de abandono, capacidade de adaptação às condições climáticas e a busca por alta produtividade, como a alcançada no Brasil, chaves para compor a nova oferta global, também são exemplos de aumento de eficiência que deve ajuda as lavouras a produzirem mais com menos.
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