Plantas nativas auxiliam a recuperação de áreas de mineração
Cientistas da Embrapa e a Kinross testam plantas adaptadas para estabilizar os taludes das barragens de rejeito em Minas Gerais.
A Nova Fronteira da Sustentabilidade no Campo
Uma pesquisa de campo desafiadora busca soluções inovadoras para a recuperação ambiental de áreas impactadas pela mineração de ouro no Cerrado de Minas Gerais.
A Embrapa Cerrados e a Kinross Gold Corporation uniram esforços em Paracatu para desenvolver um método que alia a necessidade de estabilidade das barragens com a preservação do bioma. O foco está em criar um protocolo de revegetação sustentável e, principalmente, replicável.
Principais desafios
O desafio é complexo, de fato. As áreas de rejeito apresentam um cenário hostil para o crescimento de plantas, com solos extremamente ácidos, compactados e pobres em matéria orgânica. Este ambiente, somado à presença de metais tóxicos, exige que a escolha das espécies seja cirúrgica. Além disso, a lei impõe restrições técnicas que complicam o plantio.
A mineradora é legalmente obrigada a manter o solo coberto, mas a legislação limita o uso de plantas que possam desestabilizar as estruturas. Isso significa que as espécies não podem ter raízes muito profundas, para evitar rachaduras, nem parte aérea densa que impeça a vistoria do talude. É um contraste direto com a agricultura, onde o objetivo é sempre maximizar a produção.
A estratégia de solução passa por testar combinações de espécies nativas do Cerrado e exóticas já adaptadas ao bioma. A equipe está experimentando diferentes adubações e práticas de manejo em campo, buscando identificar o que realmente funciona sob condições tão adversas. O projeto atual se beneficia de experiências anteriores da Embrapa em minerações de níquel, adaptando o conhecimento para o contexto geoquímico do ouro.
Inovação e Biodiversidade
Os testes iniciais revelaram que soluções comuns na lavoura nem sempre se aplicam a esse cenário. O milheto, por exemplo, embora usado para cobertura verde na agricultura, produziu biomassa demais e sufocou espécies mais lentas, impedindo a observação da estrutura, algo proibido pela lei. Esse aprendizado prematuro mostra a importância do ajuste fino no protocolo de plantio.
Algumas espécies já mostraram grande potencial para o sucesso da revegetação, conseguindo se estabelecer mesmo em solo difícil. O foco é selecionar plantas que consigam estabilizar, mas sem comprometer a estrutura ou a fiscalização:
- Mimosa somnians, uma nativa silvestre do Cerrado, que se adapta bem.
- Alysicarpus vaginalis, uma espécie exótica cultivada na Austrália, também se mostrou promissora para o bioma.
- Ambas têm potencial de crescimento controlado, sem afetar a fiscalização do talude.
O grande gargalo, porém, não é a ciência, mas o mercado: a oferta de sementes dessas espécies adaptadas e de qualidade é baixa ou inexistente. Isso reforça a tese de que a tecnologia para a recuperação ambiental precisa nascer no próprio campo, respeitando a biodiversidade local e a dinâmica do ecossistema.
Parceria Essencial
A cooperação técnica entre os cientistas e a Kinross tem sido fundamental para o avanço. A troca de experiências e as discussões entre os profissionais garantem que o planejamento e a condução das atividades sejam feitos com rigor.
A expectativa é que este trabalho sirva de modelo e referência de recuperação ambiental para outras empresas do setor minerário no país.
“Tal cooperação tem sido essencial para o planejamento e condução das atividades de recuperação ambiental e poderá servir como referência para outras empresas do setor.”
Gabriel Mendonça, Gerente de Desenvolvimento Sustentável da Kinross.
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